Prefeitura retira barracos da praia da Preguiça, mas invasores insistem em ficar

Limpurb retirou as duas últimas barracas de madeira que restavam na praia nesta sexta (2)

Florence Perez
florence.perez@redebahia.com.br

03.12.2011, 11:11:00
Atualizado: 03.12.2011, 11:17:54

Amadeu Saldanha Neto, conhecido como "Ceará"(Desaparecido)

http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/prefeitura-retira-barracos-da-praia-da-preguica-mas-invasores-insistem-em-ficar/
Depois que o CORREIO denunciou que moradores de rua e usuários de crack tomaram conta da Praia da Preguiça, todas as tentativas da prefeitura de retirá-los têm sido em vão. Ontem não foi diferente. “Podem derrubar minha casa e levar tudo. Daqui eu não saio”, declara a invasora mais antiga da praia da Preguiça, Rosângela dos Santos.
O secretário do Trabalho, Assistência Social e Direitos do Cidadão (Setad), Ocimar Torres, explica que ninguém pode ser retirado da rua à força. “A menos que se tenha uma ordem judicial. Nosso trabalho é mais de orientação. Tentamos fazer o melhor, mas é preciso que eles tenham vontade de sair dessa condição de vida”, explicou ele.
A Limpurb retirou as duas últimas barracas de madeira que restavam no local. Na quinta-feira, eles removeram outras duas barracas.  A operação começou às 9h30 em meio a protestos.
“Jogaram nossas coisas num caminhão direto para o lixo. Isso é tudo o que nos resta. Meus documentos, lençol, minha garrafa térmica, minha comida”, reclama Jônata Silva Oliveira, invasor conhecido como “o profeta”.
A Polícia Militar também foi chamada. “Dessa vez foi preciso pedir reforço policial, pois alguns moradores nos ameaçaram quinta-feira. Diziam que iam nos matar e estavam agressivos”, conta o chefe de limpeza da Limpurb, Arnaldo de Oliveira.

A Setad  mais uma vez enviou uma equipe ao local para convencer os moradores a irem para um abrigo, mas eles se recusaram. “Tem gente de vários lugares da cidade e a coisa fica feia. Dá muita briga lá”, diz um invasor.
Drogas 
Segundo um PM, o consumo de crak no local é abastecido pela Cracolândia.  “Os consumidores de drogas vêm mesmo de lá e ficam na praia consumindo e depois assaltam quem passa por aqui”, afirmou o policial.
O administrador Raimundo Edgar ressalta que a maioria é financiada por pescadores. “Eles tomam conta dos barcos. Às vezes alguns pescadores dão até o material para eles construírem os barracos”. Ele diz que é comum presenciar cenas de sexo explícito, consumo de drogas e confusões na praia. “Isso acontece a qualquer hora do dia”.
Uma das moradoras confirma que vive na praia da Preguiça porque é usuária de drogas. "Vim por causa da droga mesmo, mas tenho família".
Quem circula pelo local diariamente relata que roubos e violência são constantes. “Tem muitos assaltos aqui. Eles vão pra cima com faca ou em grupo. Às vezes jogam as vítimas no chão e tomam tudo”, diz um segurança.
A turista de São Paulo Marta Pires conta que foi orientada a jamais visitar a região a pé. “Nos hotéis e nos balcões de informação turística já avisam que essa área é cheia de mendigos. Mas como queria conhecer a marina e o restaurante  vim de táxi”, relata.
Defesa  

Já o mergulhador Eduardo Pereira há mais de dois anos faz doações a Rosângela e o marido, Roque de Jesus Santos, e garante que  eles não são assaltantes. “Sempre passo aqui, dou um dinheiro e peço para tomarem conta do meu barco. Eles não são ladrões”, afirma. “Meu marido teve derrame e é alcoólatra. Não fazemos mal a ninguém”, completa Rosângela.
Quem mora próximo à praia sentiu-se mais aliviado com a operação. “Os barracos não incomodam. O que incomoda é a falta de segurança, o abandono”, reclama Edgar. Mas, para os invasores tudo não passou de mais uma faxina. “Só estão limpando a área para eu construir tudo novamente”, diz Rosângela.
Prefeitura quer levar invasores para abrigos
Amadeu Saldanha Neto, conhecido como "Ceará"

O artesão Amadeu Saldanha, 37, é cearense e conta que só foi parar na praia da Preguiça porque não tem como retornar à cidade natal. “Não tenho dinheiro suficiente para voltar. Se me derem a passagem eu volto”. Outro invasor quer que a prefeitura lhe dê uma moradia. “Quero uma casa digna como o Minha Casa Minha Vida”. Para essas pessoas, a Setad garante que há uma solução.

“Temos dois abrigos no Largo de Roma com capacidade para 80 pessoas cada um, que dão três refeições diárias, dormida e banho. Temos também um centro de triagem na avenida J.J.Seabra com capacidade para 100 pessoas que dá banho e dormida, além de atendimento com psicólogos e assistentes sociais”, diz o secretário Ocimar Torres.

Fonte: www.correio24horas.com.br

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